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“Gabinete > panero” Pedro Saraiva & “Idem per idem”
Maria João Gamito


João Gregório, arrais de embarcação na Marinha Mercante, encontra nos depósitos do Arsenal do Alfeite uma caixa selada com as inscrições 1602B.CS. Dentro da caixa acumulam-se objectos e fotografias, mapas, desenhos e maquetas, que nos põem diante dos olhos a evidência de um mundo que jamais deixou de ser a sua encenação. O autor desse mundo e da sua herança é Francisco José Martins, mais conhecido como Panero – assim decidiu Pedro Saraiva –, um rosto e um nome apenas coincidentes no nomadismo da obra que lhos confere, à semelhança do que acontece com os rostos e os nomes que coincidem com as obras que a antecedem e com as que se lhe seguirão, dando corpo à galeria de retratos que ficcionam os autores dos Gabinetes e a ficção que lhes atribui a sua autoria.
E nunca se sabe o que vem primeiro – se a obra, se o autor – porque neste programa de recolha paciente de amostras do mundo e de inventariação dos homens, neste esboço de histórias nascidas de discretas apropriações e indiscerníveis transferências, é toda a história da arte ocidental que Pedro Saraiva revisita, como se os desígnios da arte só pudessem ser entendidos na ressonância das coisas produzidas e da invenção que as trouxe a nós. Nessa revisitação de lugares expositivos, colecções, autores, obras, géneros, movimentos, correntes, tendências e estilos, são trazidos para o campo da arte conceitos que, sem lhe serem alheios, habitam as margens da entidade artística: o coleccionador e o amador, na sua dimensão mais privada e mais anónima. Heteronímicos e literários, ambos recuperam da invisibilidade da arte as ficções que os tornam visíveis, breviários que lemos e vemos na obra que os dá a ver. Teatros ainda, teatros do mundo (theatrum mundi) e teatros da memória – câmaras de retórica os denominou Victor Stoichita (L’Instauration du tableau: métapeinture à l’aube des temps modernes) –, espaços narrativos onde as coisas indicam o lugar aos signos para que o discurso aconteça na verdade possível de uma ilusão perfeita, que é a ilusão que, prescindindo do aqui e agora dos espelhos, traz para o espaço dos Gabinetes que percorremos o apagamento da circunstância da imagem e, portanto, a sua possibilidade de acontecer como ser ou coisa entre os seres e as coisas, numa narrativa em abismo, continuamente suspensa do último e neurótico termo da sua completude. 
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